A primeira aula que eu me lembro de ter assistido em sala na época da faculdade de Comunicação Social, lá em 2009, foi sobre pirâmide invertida, a principal estrutura de um texto jornalístico. A professora pediu para que todos os alunos escrevessem em forma de notícia a história da Chapeuzinho Vermelho. Todo mundo errou? Sim, a sala inteira errou. Contamos a história como a conhecíamos, com começo (introdução), meio e um fim surpreendente. Acontece que em uma notícia, a parte mais importante - no caso, o final - tem que vir primeiro. Essa foi a primeira vez que olhei para um texto meu e pensei “tá TUDO errado, vou amassar essa folha, jogar no lixo e recomeçar”. E isso acontece até hoje: reescrevo milhares de vezes um texto. Se tem algo que ficou marcado pra mim é que a primeira versão nunca estará boa o suficiente. E se ela parece estar é porque com certeza tem algo errado.
Eu também pequei muito em texto jornalístico porque sou uma pessoa adepta dos adjetivos. Sempre dou um jeito de colocar um “isso é incrível” ou “essa coisa aqui é realmente uma porcaria”. Em outra aula, lá pelo segundo semestre, recordo que escrevi um texto que li, reli, reescrevi e na versão para entregar para o professor eu tinha certeza que estava tudo perfeito e que merecia ganhar uma estrelinha dourada na testa. Só que é inadmissível você usar adjetivos em textos noticiosos. Eu também adorava usar artigos pra tudo: “o Fulano chamou a Beltrana para sair” em vez de “Fulano chamou Beltrana para sair”. E eu achava que estava ligando orações de maneira correta, quando na verdade estava enchendo meus textos de palavras desnecessárias. Ninguém precisa ler lero-lero no meio das notícias. Quem lê, procura por objetividade. E para que eu aprendesse de vez isso, meu texto precisou voltar cheio de riscos, correções e muita tinta de caneta vermelha.
Isso tudo voltou na minha memória, me deixando nesse clima nostálgico, porque estou lendo “Sobre a Escrita” de Stephen King e eis que chego numa parte em que o autor conta sobre a época em que trabalhou para um jornal, escrevendo artigos esportivos. Ele escreve:
“Assisti a muitas aulas de literatura inglesa nos meus dois últimos anos na Lisbon, e também tive muitas matérias sobre redação, ficção e poesia na faculdade, mas John Gould, em menos de dez minutos, me ensinou mais do que qualquer uma delas. Gostaria que o original ainda estivesse comigo — ele merecia ser emoldurado, com todas as correções editoriais —, mas ainda me lembro bem de como era e de como ficou depois que Gould passou um pente fino no texto com aquela caneta preta”.
Em seguida, o autor nos dá um exemplo de como foi escrito o texto mencionado e de que maneira foi corrigido:
“— Quando você escreve, está contando uma história para si mesmo — disse ele [Gould]. — Quando reescreve, o mais importante é cortar tudo o que não faz parte da história”.Essa foi a explicação de Gould (o editor) para Stephen. Nesse momento, o jovem Stephen afirma que teve uma revelação e se perguntou por que isso não era ensinado nas aulas de inglês. E eu me pergunto: é mesmo, por quê? Essa lição deveria ser ensinada em todas as aulas de gramática, de todas as línguas do mundo. Esse é o segredo de um bom texto, especialmente noticioso. Não cheguei nem na metade do livro, mas já posso dizer que as chances dele entrar em meus favoritos de 2016 são enormes.
Nenhum comentário:
Postar um comentário