segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

Algumas considerações sobre 2016

Esse ano foi um daqueles que a gente torce para tudo não passar de um pesadelo ou de uma piada de mau gosto. Infelizmente, ele aconteceu de verdade e muita coisa ruim veio junto. Janeiro já começou com a morte do meu grande amor David Bowie. Em abril, sofri uma perda familiar da qual ainda não me recuperei: perdi minha avó materna. No geral, o cenário político brasileiro (mundial, vai) está uma tristeza só. Recentemente, tivemos a queda do voo com o pessoal da Chapecoense e com 20 profissionais da imprensa, com poucos sobreviventes. Ninão, o cachorro que ouso dizer ser o mais famoso do Brasil, morreu. E essas coisas ruins são apenas um pequeno exemplo de como o ano foi péssimo.

Mas como hoje em dia sou uma pessoa muito mais positiva, vou tentar enumerar algumas coisas boas (e pessoais) que fizeram meu 2016 não ser um completo breu. 

1 – Minhas publicações na obvious esse ano: 

• A mistura inusitada do corpo humano com a tecnologia
"Você já deve conhecer a prática de suspensão corporal, certo? Mas é pouco provável que já tenha visto um corpo com uma orelha no braço. E se esse corpo, além de ter uma terceira orelha, também fosse suspenso? Stelarc, artista que mistura anatomia, robótica e tecnologia digital, fez esse e outros experimentos".

• Moda em terceira dimensão
"As impressões em 3D vêm revolucionando muitas esferas de nossas vidas. Em meio a infinitas possibilidades de imprimir objetos, órgãos, móveis e imóveis, comidas e milhares de outras coisas, a moda não poderia ficar de fora e também mergulhou de cabeça nessa onda. O resultado são produtos inovadores. Quer conhecer alguns?"

• Meditar ou não, eis a questão
"A meditação é uma prática muito antiga, que persiste até os dias de hoje. Muito se ouve falar sobre seus benefícios, mas,existem pessoas que questionam isso".

• Afinal, o que é ser belo?
"A beleza é determinada de acordo com a época em que vivemos ou ela é subjetiva? Como vamos estabelecer o que é esteticamente belo se cada um de nós carrega uma bagagem diferente e tem percepções particulares? Como alcançar a beleza ideal se ela está sujeita a mudanças de tempos em tempos? O que significa essa tal de beleza?"

• As atrocidades do canibalismo humano
"Canibalismo é o ato de se alimentar de um ser da própria espécie. No reino animal, é uma prática comum e fácil de aceitar. Mas e quando a prática é entre humanos? Houve um tempo em que isso fazia parte do dia-a-dia de muitos povos".

• As semelhanças e a vestimenta dos incas, maias e astecas
"A Era pré-colombiana diz respeito à história das Américas antes do aparecimento dos europeus, abrangendo os povos do Paleolítico Superior até a colonização que ocorreu na Idade Moderna (ou seja, o termo inclui a história das culturas indígenas americanas até sua conquista de fato). Vamos focar aqui em três famosos povos pré-colombianos (maias, incas e astecas), comparando suas semelhanças".

Esse último texto foi inspirado no meu Trabalho de Conclusão de Curso em Produção de Moda!

2 – Livros que me fizeram olhar a vida por outro ângulo: 

No início do ano passei por algumas mudanças e minha irmã me deu dois livros do Pe. Marcelo Rossi (Philia e Ruah) que eu recomendo para todos, por ter uma escrita leve e encorajadora. Não sou católica, mas as palavras do padre me confortaram e volta e meia retorno a algum trecho para me sentir em paz. Minha cunhada me emprestou outro livro dele, chamado Ágape, que também é incrível.

Alucinadamente Feliz -  Jenny Lawson
Esse livro mudou minha vida, sério. A começar pela capa de um simpático gambá empalhado. Depois, senti que a autora me compreendia. Ri e chorei lendo. E já quero reler! Escrevi sobre ele aqui.

A Arte de Pedir - Amanda Palmer
Aqueceu meu coração quando terminei de ler Alucinadamente Feliz e fiquei perdida na vida, haha. Amanda é uma pessoa incrível. Também escrevi sobre esse livro.

A Mágica da Arrumação - Marie Kondo
Muito amor com as minhas roupas. Essa é minha vida pós Marie Kondo.

Vista quem você é - Cris  Zanetti e Fê Resende
Um grande processo de autoconhecimento e mais amor ainda pelas minhas roupas. Esse livro e A Mágica da Arrumação me ajudaram um bocado, como eu conto aqui.

Mulheres, Comida & Deus - Geneen Roth
Apesar do nome, nada tem a ver com religião ou crenças. Esse livro fala sobre alimentação intuitiva e vale muito a pena para quem, como eu, passa por transtornos alimentares.

Zumbis x Unicórnios - Org. Holly Black e Justine Larbalestier
Ainda não sei definir esse livro. Mas tentei expressar um pouco sobre minhas impressões nesse post.

PS.: daqui alguns dias posto a lista de todos os livros que li esse ano. ♥

3 – Álbuns que me tiraram do caos:

• Obviamente o melhor dos melhores para mim esse ano foi o novo do Avenged Sevenfold: The Stage. Mal tinha lançado e eu já estava ouvindo! Foi trilha dos meus últimos dias no curso de moda.


• Depois, viciei em Sleigh Bells, com o álbum Jessica Rabit. Confesso que esses dois primeiros continuam no meu repeat enquanto dirijo. 

• E aqui do Brasil, destaque para Tássia Reis com o álbum Outra Esfera.

4 – Entreguei meu TCC e me formei em Produção de Moda. Ainda não estou com o diploma em mãos e isso faz com que eu me sinta meio estranha em me autodeclarar profissional reconhecida pelo MEC. Aguardemos cenas dos próximos capítulos.

Sobre meu trabalho, fiz durante um ano pesquisas. O resultado foi a monografia “Povos do Sol – as vestimentas maia, inca e asteca traduzidas aos dias de hoje”. Aprendi muito com a minha pesquisa, li muitos artigos acadêmicos, reportagens e alguns livros (ou trechos deles) sobre o tema. E percebi que não temos material em português sobre a indumentária desses povos. Então, um dos meus projetos para 2017 é transformar essa pesquisa em livro.

 

No processo do trabalho, tive que criar minha própria marca, com toda a parte publicitária, passando pelos croquis da coleção “Povos do Sol”, criação de uma vitrine temática, editorial de moda (com produção e fotografia minhas), modelagens, peças pilotos e planejamento de desfile (incluindo a parte mais prazerosa: escolha das músicas). 


5 – Escrevi dois livros e meio. Dois romances e a monografia que é meio passo andado para a conclusão do livro. Projetos para 2017.


6 – Lancei meu próprio negócio de lembrancinhas personalizadas e assumi quase todas as artes finais da gráfica onde sou sócia-proprietária e também arte finalista (além de produtora de conteúdo para mídias sociais). A parte que mais me dá prazer é a diagramação de jornais, uma maneira de manter viva a formação que escolhi (além das publicações na obvious, claro).


7 – Outra forma de manter a formação em Jornalismo atualizada, foi o curso Mídias Sociais e as Relações Humanas que fiz online, pela Cásper Líbero. Me ajudou de tantas maneiras na vida pessoal e profissional que não tem nem como explicar.

 
8 – E me envolvi em um projeto chamado “Festas, criações e cia”. É um evento de fornecedores para todos os tipos de festas, com exposições de convites, decoração, copos, lembrancinhas e doces. Mais eventos estão previstos para 2017! Além de fazer parte da organização, também cuidei da página do Facebook e claro, da exposição das lembrancinhas que produzi. Foi tudo muito lindo!

 

9 – Séries e filmes

Estou com quase todas as séries que eu assisto atrasadas. Salvo Game of Thrones (que teve um season finale perfeito), Broad City (que terminei a terceira temporada recentemente e – MEU DEUS – foi muito boa), Narcos (que teve a melhor segunda temporada do mundo!) e The Strain (com a melhor temporada da série até agora, minha preferida do ano). Parei no meio de American Horror History - Roanoke, mas também estava gostando (vou deixar para terminar de ver em 2017). Teve também a série Girls in the house, disponível no YouTube que foi só eu ver um teaser que me apaixonei e devorei nos meus minutinhos de folga. Entrei na febre Stranger Things, mas ainda não sei se gostei realmente ou não (vou ver a segunda temporada porque o elenco infantil é o mais talentoso que já vi na vida!).

Já sobre filmes, alguns me prenderam tanto que eu recomendo pra todo mundo: Warcraft: O Primeiro Encontro Entre Dois Mundos (2016 - pra mim, foi o melhor lançamento do ano!); Controle: A História de Ian Curtis (2007 - o melhor de todos que vi esse ano); O que fazemos nas sombras (2014 - o segundo melhor que vi esse ano e olha que é de comédia); A Vida Secreta das Abelhas (2008); A Mão do Diabo (2001); Uivo (2010); Os 12 Macacos (1996); Ela (2013); El Cuerpo (2012); A Garota Dinamarquesa (2015); Sala do Suicídio (2011); Os Suspeitos (2013); O Presente (2015); Irreversível (2002); Nebraska (2013); Seven: Os Sete Crimes Capitais (1995).

E esse é meu balanço do ano, ainda que falte mais de 10 dias para 2016 findar. :) 

sábado, 17 de dezembro de 2016

Uma aula de escrita com a vida de Stephen King

A primeira aula que eu me lembro de ter assistido em sala na época da faculdade de Comunicação Social, lá em 2009, foi sobre pirâmide invertida, a principal estrutura de um texto jornalístico. A professora pediu para que todos os alunos escrevessem em forma de notícia a história da Chapeuzinho Vermelho. Todo mundo errou? Sim, a sala inteira errou. Contamos a história como a conhecíamos, com começo (introdução), meio e um fim surpreendente. Acontece que em uma notícia, a parte mais importante - no caso, o final - tem que vir primeiro. Essa foi a primeira vez que olhei para um texto meu e pensei “tá TUDO errado, vou amassar essa folha, jogar no lixo e recomeçar”. E isso acontece até hoje: reescrevo milhares de vezes um texto. Se tem algo que ficou marcado pra mim é que a primeira versão nunca estará boa o suficiente. E se ela parece estar é porque com certeza tem algo errado. 

Eu também pequei muito em texto jornalístico porque sou uma pessoa adepta dos adjetivos. Sempre dou um jeito de colocar um “isso é incrível” ou “essa coisa aqui é realmente uma porcaria”. Em outra aula, lá pelo segundo semestre, recordo que escrevi um texto que li, reli, reescrevi e na versão para entregar para o professor eu tinha certeza que estava tudo perfeito e que merecia ganhar uma estrelinha dourada na testa. Só que é inadmissível você usar adjetivos em textos noticiosos. Eu também adorava usar artigos pra tudo: “o Fulano chamou a Beltrana para sair” em vez de “Fulano chamou Beltrana para sair”. E eu achava que estava ligando orações de maneira correta, quando na verdade estava enchendo meus textos de palavras desnecessárias. Ninguém precisa ler lero-lero no meio das notícias. Quem lê, procura por objetividade. E para que eu aprendesse de vez isso, meu texto precisou voltar cheio de riscos, correções e muita tinta de caneta vermelha.

Isso tudo voltou na minha memória, me deixando nesse clima nostálgico, porque estou lendo “Sobre a Escrita” de Stephen King e eis que chego numa parte em que o autor conta sobre a época em que trabalhou para um jornal, escrevendo artigos esportivos. Ele escreve: 

“Assisti a muitas aulas de literatura inglesa nos meus dois últimos anos na Lisbon, e também tive muitas matérias sobre redação, ficção e poesia na faculdade, mas John Gould, em menos de dez minutos, me ensinou mais do que qualquer uma delas. Gostaria que o original ainda estivesse comigo — ele merecia ser emoldurado, com todas as correções editoriais —, mas ainda me lembro bem de como era e de como ficou depois que Gould passou um pente fino no texto com aquela caneta preta”. 

Em seguida, o autor nos dá um exemplo de como foi escrito o texto mencionado e de que maneira foi corrigido: 
“— Quando você escreve, está contando uma história para si mesmo — disse ele [Gould]. — Quando reescreve, o mais importante é cortar tudo o que não faz parte da história”.
Essa foi a explicação de Gould (o editor) para Stephen. Nesse momento, o jovem Stephen afirma que teve uma revelação e se perguntou por que isso não era ensinado nas aulas de inglês. E eu me pergunto: é mesmo, por quê? Essa lição deveria ser ensinada em todas as aulas de gramática, de todas as línguas do mundo. Esse é o segredo de um bom texto, especialmente noticioso. Não cheguei nem na metade do livro, mas já posso dizer que as chances dele entrar em meus favoritos de 2016 são enormes.

terça-feira, 6 de dezembro de 2016

Apanhado de links #7



Aí estão alguns links que visitei nos últimos tempos (enquanto estive sumida) e recomendo fortemente:

1 - Esse texto amor do Walcyr Carrasco sobre ter ganhado um Emmy, uma lição sobre dar valor às origens: “Ganhei o Emmy!”

2 – Este artigo de utilidade pública sobre como você pode checar os fatos para não compartilhar notícias falsas no Facebook por aí: “Como fazer sua própria checagem de fatos e detectar notícias falsas”. Recomendo muito ao titio Mark Zuckerberg.

3 – Esses dias tive uma vontade que achei que nunca teria na vida: assistir ao programa Esquenta. No fim das contas, não deu. Mas o motivo se chamava Ouro Preto, uma das melhores cidade que tive o prazer de conhecer lá em Minas Gerais (embora tenha amado todas as que fui). Esse texto traz alguns pontos interessantes sobre esse lugar: “Poesia e fome dos modernistas na preservação de Ouro Preto”.

4 – Amo Beatles, detesto John Lennon (e não tem nada a ver com Yoko Ono, importante destacar. Porém, meus motivos não vem ao caso agora). “John Lennon era sexista e admitiu ter batido em mulheres” me fez detestá-lo ainda mais.

5 – Esse link com “Imagens dos métodos surreais de um psicoterapeuta russo” me fez querer fazer tratamento por lá. Fica a dica pros terapeutas brasileiros. Se precisarem de cobaia, estou aqui, haha.

6 – Tô até agora impressionada com a chave funcionando dentro da fechadura (item 6)! “27 gifs que explicam perfeitamente como as coisas funcionam” traz algumas curiosidades aleatórias.

7 – Bóra parar de ter preconceito com o amiguinho por causa de sua estética? Bóra! Saúde a gente mede de outro jeito, por favor, deixem essa parte para os médicos! “Campanha causa polêmica e levanta dúvida: é possível ser gordo e saudável?” não é sobre apoiar a obesidade, é sobre entender que nem todo gordo é doente e nem todo magro é saudável.

8 – E já que falei sobre saúde, eis aqui um post esclarecedor sobre entender sua saciedade (ou melhor, recuperar esse sentido): “A experiência da saciedade”.

9 – “ Você seria acusado de bruxaria no século XVII?” é um teste que não só me fez perceber que tenho sorte de não ter nascido nessa época, como mostrou que quase todas nós, mulheres, seriamos consideradas bruxas.

10 – Ainda não decidi se concordo ou discordo do texto “Toda amplitude do que é ser humano ou porque criar personagens diferentes de você mesmo”, mas com certeza é um ótimo exercício de escrita.

11 – Tava aqui eu fazendo pesquisa sobre como organizar melhor outlines e gente, cai nesse link emocionante aqui: “Outline de livros famosos feitos à mão por seus autores”.

12 – Ainda sobre escrever, tenho um sério problema com títulos de textos, de histórias, de livros, de tudo. Esse link dá uma ajuda legal pra isso: “How to title your novel”.
13 - Posso finalizar com um vídeo lindo, com cheiro de infância / pré-adolescência, com música dos BSB, com artistas se divertindo, que eu cantei junto e até me senti com eles dentro da filmagem?


domingo, 4 de dezembro de 2016

Quem escreve as bulas? - por Mario Prata

"Quando me perguntam a profissão e eu digo que sou escritor, logo vem outra em cima: de que? De tudo, minha senhora. De tudo, menos de bula. Romance, cinema, teatro, televisão, poesia, ensaios, tudo-tudo, menos bula! 

Uma vez, num barzinho uma gatinha me perguntou o que eu escrevia e disse que escrevia bula. Ela não deu a menor atenção para mim. Se dissesse que era cronista do Estadão talvez tivesse mais sucesso. Por que o preconceito contras as geniais bulas? Quando é bula papal todo mundo leva a sério, mesmo que seja para dizer que não se pode fazer amor sem a intenção da procriação (que palavra mais animal!) 

Não que eu não aprecie as bulas. Pelo contrário. Adoro lê-las. E com atenção. E, sempre, depois de ler uma, já começo a sentir todas as 'reações adversas'. 

Admiro, invejo esse colega que escreve bulas. Fico imaginando a cara dele, como deve ser a sua casa.

Que papo tal escrivão deve levar com a mulher e com os vizinhos?

Tal remédio 'é contra-indicado a pacientes sensíveis às benzodiazepinas e em pacientes portadores de miastenia gravis'. Dá vontade de telefonar para o autor e perguntar como é que eu vou saber se sou sensível e portador? Quanto ele ganha por bula? Será que ele leva os obrigatórios dez por cento de direitos autorais? Merecem, são gênios. 

Jamais, numa peça de teatro, num roteiro de um filme ou mesmo numa simples crônica conseguiria a concisão seguinte: 'é apresentado sob forma de uma solução isotônica (que lindo!) de cloreto de sódio, que não altera a fisiologia das células da mucosa nasal, em associação com cloreto de benzalcônio'. Sabe o que é? O velho e inocente Rinosoro. 

Vejam o texto seguinte e sintam na narrativa como o autor é sádico: 'você poderá ter sonolência, fadiga transitória, sensação de inquietação, aumento de apetite, confusão acompanhada de desorientação e alucinações, estado de ansiedade, agitação, distúrbios do sono, mania, hipomania, agressividade, déficit de memória, bocejos, despersonalização, insônia, pesadelos, agravamento da depressão e concentração deficiente. Vertigens, delírios, tremores, distúrbios da fala, convulsões e ataxia'. Pronto, tenho que ir ao dicionário ver o que é ataxia: 'incapacidade de coordenação dos movimentos musculares voluntários e que pode fazer parte do quadro clínico de numerosas doenças do sistema nervoso'. Já sentindo tudo descrito acima. 

Quem mandou ler? 

E quem tem úlcera pélvica não pode tomar remédio nenhum. Está condenado à morte? Toda bula odeia essa tal de úlcera pélvica. As demais úlceras entram como coadjuvantes nos textos dos autores buláticos (tem a palavra no Aurélio). 

E as gestantes (é como os buláticos chamam a grávida)? Elas não podem tomar nenhum remédio. Os nobres coleguinhas protegem a gravidez. 

E se você tem 'intolerância conhecida aos derivados pirazolônicos', te cuida, irmão. Deve dar em gente nascida em Pirassanunga e região. 

Para todo remédio uma bula diferente, um estilo próprio, um jeito de colocar a vírgula diferente.

Tudo isso para dizer que outro dia, na cama, com a parceira amada, pego uma camisinha na mesinha e abro. Sabe o quer estava escrito lá dentro? 'Parabéns! Você adquiriu o mais avançado e seguro preservativo do mercado brasileiro'. Era uma bula. Escrita por algum conhecedor, é claro, dentro da caixinha da camisinha. Claro que me entusiasmei e segui a leitura deixando a amada de lado. Broxei, é claro. Mas, em compensação, fiquei sabendo que 'o agente espermicida nonoxinol (essa não tem no Aurélio) 9 (logo o 9?) é contra as DSTs'. 

Depois dessa informação, aí sim, voltei para a alcova. Mas e a amada, onde estava? 

E lembre-se sempre: todo medicamento deve ser mantido fora do alcance das crianças. E não tome remédio sem o conhecimento do seu médico. Pode ser perigoso para a sua saúde. 

E pra cabeça! 

Agora, falando sério. Admiro os escritores de bula. Assim como invejo os poetas. Talvez por nunca ter sido convidado (nem teria experiência) para escrever uma e nunca tenha conseguido escrever um poema. Sempre gostei de escrever as linhas até o final do parágrafo. 

Para mim o poeta é um talentoso preguiçoso. Nunca chega ao final da linha. Já repararam?

Já o bulático, esse sim, é um esforçado poeta!"