segunda-feira, 24 de setembro de 2018

Por que somos tão inseguros?

por que somos inseguros?

Passeando pelas timelines das redes sociais volta e meia me deparo com análises ou piadas sobre a questão “Capitu traiu Bentinho?”. É curioso pensar que um livro publicado em 1989 ainda tem o poder de causar rebuliço nos dias de hoje, tamanha é sua fama. Mas não, eu não estou aqui pra falar sobre a questão Capitu. Quero falar sobre o problema em ter vergonha de se expor. Pensa comigo, com certeza Machado de Assis teve episódios de ansiedade, insegurança e medo, afinal, todo ser humano tem essas coisas. E se num desses momentos, Machado sentisse medo de não ser lido ou receio de seu texto não estar bom o suficiente? Se esses sentimentos o tivessem paralisado e o impedissem de entregar a primeira versão de Dom Casmurro, nós não conheceríamos Capitu e Bentinho hoje. Se Machado fosse inseguro ao extremo (e talvez ele fosse, mas dava algum jeito de vencer isso), jamais teríamos outros tantos livros incríveis como Memórias Póstumas de Brás Cubas ou Quincas Borbas.

Mas Machado foi meu primeiro exemplo. Assim como Dom Casmurro, que é leitura obrigatória para vestibulandos, também estão livros como O Guarani, de José de Alencar. E o José, será que teve uma vida linda, sem medos, totalmente seguro de si, de seu trabalho, de sua escrita?

Vamos chegar no nosso tempo, só para dar um exemplo atual de uma pessoa que causa tanto tumulto na internet quanto Capitu: Elena Ferrante com sua tetralogia napolitana. Será que Ferrante tem insegurança ao escrever? Será que, como eu quando escrevo, Elena acha tudo lindo e fantástico e dois meses depois relê e acha tudo uma grande matéria fecal? Ou será que esses autores citados são alienígenas e nunca tiveram medo de entregar seus textos, pois estavam plenamente conscientes da sua genialidade?

Colagem por Graziele Lima para o blog Eu e Minha Estupidez

O ponto onde quero chegar é, tomando como certo que nenhum deles é um alienígena, se essas pessoas não tivessem vencido suas inseguranças quando elas surgiram, não teríamos hoje essas obras e nem estaríamos 100 anos depois discutindo uma possível traição ou postando fotos de trechos de conversas entre Lila e Lenu no Instagram. E a gente, que escreve mas não tem essa fama toda, será que não está se sabotado demais com relação aos nossos textos? Será que não estamos deixando nossa insegurança vencer, em vez de mostrar ao mundo nossa cria?

Eu sei que não sou a única que escreve e não publica por medo, insegurança, vergonha. Conversei com uma amiga que é poeta e escritora e vi que a insegurança em mostrar o que escrevemos não é só minha, é de todo mundo nesse ramo. Ela, por exemplo, escreve coisas lindas e inspiradoras. Mas é muito fácil pra mim, que estou lendo e sendo impactada com o trabalho dela falar isso. Ela perceber o quanto uma vida pode ser tocada se entregar o texto para a internet ou qualquer outro meio, são outros 500, percebem?

Nós deixamos nossa insegurança nos dominar. Por que não paramos e pensamos, como citado nesse texto, que nossas ideias podem parecer óbvias pra gente, mas são incríveis para os outros? Um dia vamos reler aquele texto publicado e encontrar erros, certamente, mas tudo bem, isso só mostra que evoluímos enquanto escritores e não que aquela obra não valeu para alguém.

Colagem por Graziele Lima para o blog Eu e Minha Estupidez

A gente tem medo de arriscar. E eu sei que é difícil, porque enquanto escrevo isso, tenho três livros escritos e guardados só pra mim. Mas me assusta pensar em quantos novos Machados de Assises estamos perdendo. Não precisa nem ser tão genial quanto o Machado, mas poderia ter uma obra impactante, que marcaria os próximos séculos. Quantas Elenas Ferrantes se escondem em pessoas que simplesmente tem medo de mostrar suas escritas as vezes até para um amigo próximo? A gente precisa parar. Só que... eu não sei como. Eu realmente não sei.

Esse texto termina assim, sem solução nenhuma. Se você tiver uma, por favor, ajude essa galera que escreve e que precisa. Salve os Machados, os Josés e as Elenas, por favor. E salve a mim, que preciso aprender a não me sabotar mais.


*PS.: usei colagens feitas por mim, representando momentos de insegurança, para ilustrar esse texto, achei uma maneira não convencional de ilustrar a postagem, ao mesmo tempo em que eu tenho esse momento de vulnerabilidade por postar arte minha aqui, além dos textos.*

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