quarta-feira, 19 de julho de 2017

Resenhas: Jane Eyre e O Morro dos Ventos Uivantes, das irmãs Brontë

Jane Eyre e O Morro dos Ventos Uivantes, das irmãs Bronte






Me pergunto constantemente: o que tinha na comida da família Brontë para fazer com que três irmãs lançassem romances de sucesso? Para tentar entender, li recentemente os romances mais famosos de duas das irmãs: Jane Eyre, de Charlotte Brontë e O Morro dos Ventos Uivantes, de Emily Brontë. Faltou ler algo de Anne Brontë, deixo para uma próxima!

Ambos os livros tem histórias bem melancólicas, que nos levam a sentir tristeza ao pensar em determinados personagens. Isso talvez se deva a vida que as próprias irmãs levaram: perderam a mãe precocemente e receberam estudos precários por conta disso; o irmão mais velho virou alcoólatra e a família passou por dificuldades financeiras. O primeiro livro lançado por elas, uma coletânea de poesias com pseudônimos masculinos, foi um fracasso. Aliás, só Jane Eyre foi sucesso imediato. Mesmo O Morro dos Ventos Uivantes foi criticado negativamente na época.

Vamos às resenhas? 

Jane Eyre – Charlotte Bronte

Jane Eyre

Jane Eyre é um livro peculiar, de uma escrita dessas que te prende por horas a fio e você acaba até se esquecendo de dormir. Acompanhamos Jane desde sua infância sendo uma órfã injustiçada pela mulher de seu tio – que faleceu - e por seus primos, até ser enviada para um internato. Lá, embora a educação fosse rígida, a menininha se tornou uma das melhores alunas, posteriormente tornando-se professora do local. Com espírito desbravador, Jane procura um emprego fora dos muros do colégio. Então ela é contratada como preceptora de uma garota chamada Adéle, pupila do Sr. Edward Rochester.
“As mulheres, em geral, são consideradas mais pacíficas que os homens. Puro engano. Elas experimentam exatamente o mesmo do que os homens, sofrem quando apertadas em moldes rígidos, numa estagnação absoluta, tal como eles. E aqueles que se sentem felizes, passando a vida a cozinhar, a coser meias, a tocar piano e a bordar, podem considerar-se espíritos acanhados. É uma insensatez condená-las ou troçar daquelas que procuram fazer mais ou adquirir conhecimentos superiores aos que é habito conceder ao seu gênero”.
Jane e seu patrão acabam se apaixonando perdidamente, mas tem um fato sombrio que vai atrapalhar a vida dos dois e intensificar o sofrimento de Miss Eyre, que pela primeira vez na vida parece estar sendo feliz. 
Jane Eyre
“Que Deus o defenda, caro leitor, de sofrer o que eu sofri naquela altura, de chorar lágrimas tão ardentes, tão amargas como as que me saltara dos olhos, de erguer ao céu preces tão desesperadas como as que me brotavam dos olhos! Que nunca tenha a certeza, como eu tinha, de ser instrumento de dor para aquele a quem mais amava no mundo!”
Para a época, imagino o choque que foi um livro representar uma mulher com espírito livre, que enlouquecia de raiva quando era mandada e sua mente consentia em obedecer: “Tomou sobre mim império que, quando dizia ‘Vá’ eu ia, se me dizia ‘Fique', eu ficava. Isto degradava-me. Nunca gostei de ser dominada. Teria preferido que continuasse a ligar-me pouca ou nenhuma importância”.

A edição que eu li é portuguesa (de Portugal), mas em nenhum momento a língua atrapalhou a leitura.

Ficha Técnica
Título: Jane Eyre
Autora: Charlotte Bronte
Tradutora: Mafalda Dias
Editora: Book.it
Ano: 2011
Páginas: 415

O Morro dos Ventos Uivantes – Emily Bronte

O Morro dos Ventos Uivantes
Não sei como começar a falar sobre O Morro dos Ventos Uivantes. O livro começa praticamente pelo fim e vai caminhando até o início da história de um menininho que ganha o nome de Heathcliff, encontrado abandonado pelas ruas de Liverpool e trazido para morar na casa chamada O Morro dos Ventos Uivantes pelo proprietário, Sr. Earnshaw, pai de Catherine. As duas crianças desenvolvem uma amizade forte norteada por um amor mais forte ainda. A parceria nas travessuras é o que mais me chamou a atenção de início. Um dia, depois de crescerem, Cathy se vê numa dúvida: casar-se com o requintado Sr. Linton, que ela amava de certa forma, ou com seu grande amor, sua alma gêmea, Heathcliff, que não se tornou um menino muito instruído? Em uma confissão para sua ama Nelly Dean, Catherine diz que “Casar-me com Heathcliff agora me degradaria; por isso, ele nunca vai saber quanto eu o amo; e o amo não por ele ser bonito, Nelly, mas por ele ser mais eu do que própria sou. Não sei de que nossas almas são constituídas, mas a dele e a minha são iguais, e a de Linton é tão diferente quanto um raio de luar de um relâmpago, ou a geada do fogo”.

O amor entre os dois é infinito e não morre nem quando Cathy decide finalmente se casar com o Sr. Linton, que é extremamente apaixonado por ela, como nos atesta Nelly: “Edgar Linton, assim como milhares de homens antes dele, e milhares depois dele, estava apaixonado; e ele se considerava o homem mais feliz do mundo no dia em que à conduziu a capela de Gimmerton (...)”. A partir daí, o pequeno Heathcliff, que era apenas travesso, se transforma num poço de maldades, numa pessoa sem escrúpulo nenhum, amargurada, capaz de causar as maiores perversidades contra todos que o rodeiam. Ele ama demais Cathy e odeia demais o resto do mundo.
“Meu amor por Linton é como a folhagem nos bosques. O tempo vai alterá-lo, sei muito bem disso, assim como o inverno altera as árvores. Meu amor por Heathcliff se parece com as rochas sempiternas sob a superfície: uma fonte de pouquíssimo prazer visível, mas necessário. Nelly, eu sou Heathcliff – ele está sempre, sempre em meus pensamentos; não como uma coisa prazerosa, não mais do que eu sou sempre uma fonte de prazer para mim, mas como meu próprio ser... então, não mencione outra vez nossa separação; ela é impossível (...)”.
O final é surpreendente e eu não posso falar mais para não dar spoilers. Durante a leitura, precisei fazer várias pausas para respirar e digerir tudo. É um livro triste, carregado de personagens mimados, egocêntricos, irritantes, maldosos – nisso me lembrou o brasileiro O Cortiço, de Aluísio de Azevedo, com muitos personagens que fogem do comum.

Quando descobriram, na época de mil oitocentos e bolinhas, que a verdadeira autora de O Morro dos Ventos Uivantes era uma mulher, todo mundo se chocou. Como uma mulher poderia escrever algo tão grotesco? (Toma essa, sociedade!)

A tradução que li foi feita por Solange Pinheiro que tomou o cuidado de traduzir as gírias e o dialeto de Yorkshire (região onde as irmãs Brontë moravam).

Ficha Técnica
Título: O Morro dos Ventos Uivantes
Autora: Charlotte Bronte 
Tradutora: Solange Pinheiro 
Editora: Martin Claret
Ano: 2014
Páginas: 427
“Qual seria o significado da minha criação se todo meu ser estivesse contido apenas em mim mesma? Meus maiores sentimentos tem sido os de Heathcliff, e eu vi e senti cada um deles desde o início; minha maior razão de viver é ele.” - Catherine em O Morro dos Ventos Uivantes

22 comentários:

  1. Dá até vontade de ler esses livros!! Muito bom o texto.

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  2. Olá, amore tudo bom?
    Nossa que resenha maravilhosa não conhecia esses livros
    mais já vou procurar eles... ameis seu blog já estou seguindo

    🌸Um super Beijo🌸

    📺 www.jessicamourablog.com

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  3. Ja lu vários livros mais este não tinha lido ainda,mais eu li o seu resumo amei vou ler ele também Beijos
    terraqueoscriativos.blogspot.com

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  4. Lá vem eu sem conhecer nenhum dos livros kkkkkkkkkkk mas gostei das dicas parecem ser ótimo =)

    Beijinhosss ;*
    Blog Resenhas da Pâm

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    1. HAHAHHAHAHA, mas que bom que gostou das dicas, flor! Um beijo! ♥

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  5. Oii Grazi, tudo bem?
    Eu já conhecia "O morro dos ventos uivantes" sempre tive vontade de ler, mas sempre me esqueço!
    Não conhecia ainda o outro livro, e nem sabia que elas são irmãs :O Incrível demais isso, 3 escritoras, irmãs e na mesma familia!
    Amei seu blog, parabéns pelo trabalho que você produz aqui!
    Beijos, Tau
    versos-de-inverno.blogspot.com

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    1. Oiiii Tauani! Ahhh tire um tempinho e leia, vale muito a pena! São irmãs sim, incrível, né? Obrigada, amei seu blog também! Beijo ♥

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  6. Não conhecia Jane Eyre, mas adorei a resenha, muito mesmo. Gosto de histórias assim e fiquei bastante curiosa pra saber o fato sombrio do relacionamento do patrao e da jane.
    Eu tenho o livro O morro dos ventos uivantes, mas por algum motivo desconhecido eu ainda não o li (nem mesmo procurei uma sinopse haha). Lendo sua resenha, acabei me interessando. Tem uns livros que, de fato, precisamos parar um pouco e tomar fôlego kkkk sei bem como é isso. Com certeza irei ler este livro agora.

    Adorei os trechos que você colocou, meu favorito foi essa terceira citação...uau, que lindo. Gostei muito, boa escolha kk. E a fotografia então?Simplesmente encantador!
    Beijos

    http://blogimaginantes.blogspot.com.br/

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    1. Obrigadaaaa, flor! Olha, posso dizer que não dá para imaginar que fato é esse :x eu fiquei assustada! Leia sim O Morro... é muito bom, embora em alguns momentos eu tenha ficado meio irritada/triste/querendo parar de ler hahaha!

      Beijos ♥

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  7. Já tentei ler o Morro dos Ventos Uivantes e larguei ele na metade, mas agora deu vontade de retornar, ótima resenha, parabéns.
    Lindo blog, já estou seguindo.

    http://submersa-em-palavras.blogspot.com.br/?m=1

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    1. Tiveram momentos em que eu quis desistir também, mas vale a pena insistir até o final, viu? Retorna sim, depois me conta!!! Obrigada ♥ Beijos

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  8. (excluí o comentário anterior porque tinha alguns - muitos- erros de português)
    Que resenhas maravilhosas!
    Não sei se sou eu que ando numa semana sensível, mas cheguei até a me arrepiar com essas citações lindas, incríveis e que mexeram comigo por dentro. Nunca li esses livros, mas só por esses trechinhos consigo ver que são aqueles livros que mexem com nossos sentimentos e nos transformam.
    Beijão

    itskimby.com

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    1. Eba, que bom que você gostou das citações! Sã livros que mexem muito com os sentimentos, principalmente O Morro... que me fez ficar apreensiva em algumas partes, mas valeu cada segundinho de leitura! Beijos ♥

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  9. Esse é um daqueles livros que tenho vontade de ler, mas por já terem me falado tão mal dele acabo desanimando :/
    Enfim, adorei a resenha, acho até que me deu ânimo para lê-lo haha.

    Beijos.
    https://aguardiadeestorias.blogspot.com.br/

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    1. Sério que você ouviu falar mal? :O Eu gostei muito, dá uma chance, vai que você também gosta! Beijos ♥

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  10. A tempos queria ler o segundo livro é por algum motivo nunca procurei com afinco e deixei de lado agora acendeu novamente o vontade de ler com esta resenha maravilhosa.bjssss😍

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  11. Tenho muita vontade de ler "O Morro dos Ventos Uivantes" e gostei muito da sua resenha sobre ele, já tinha ouvido falar sobre "Jane Eyre", mas ainda não havia me despertado para o interesse de ler o livro. Parabéns pelas resenhas, ficaram ótimas!

    https://lenabattisti.blogspot.com.br/

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  12. Oi, Grazi! Não li Jane Eyre ainda, mas O Morro dos Ventos Uivantes é meu romance preferido (e olha que eu não gosto de romance) e, na verdade, um dos melhores livros que eu li na vida. Amo a história de amor e ódio da Cathy e do Heathcliff. O primeiro trecho que você colocou é lindo e emocionante demais!

    Beijinhos, Vickawaii
    www.neverland.com.br

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