terça-feira, 27 de outubro de 2020

O maldito caçador

Esse conto foi feito para participar da blogagem do Together desse mês. Meu tema foi o número 12 com as palavras Vampiro - Poção - Caçador - Margarina. Fazia tempo que eu não exercitava meus textos de ficção, tô com um medo tremendo de ter falhas grotescas no decorrer do conto, mas vamos lá, hahaha:

O maldito caçador

Foto retirada do Tumblr

Demian era um vampiro que não podia se alimentar de comida humana, pois passava mal. Assim como as antigas histórias de ficção vampirescas, ele realmente não podia provar deliciosas trufas de chocolate ou mesmo bater o famoso pratão de feijão e arroz. Nem sucos ou refrigerantes ele conseguia tomar. Mas como nós, humanos (talvez você não seja, mas eu sou), que as vezes nos viciamos em álcool, cigarros, café, em drogas lícitas e até mesmo ilícitas, Demian era viciado em margarina. Isso mesmo, margarina. Sem pão. Puríssima! Demi passava mal depois, aquilo o destruía por dentro, seus órgãos doíam e lamentavelmente iriam começar a se deteriorar um dia.

Achar margarina era fácil. Minha amiga, Sybylla, era quem lhe arranjava. Entrava no mercado (durante o dia, quando Demian estava dormindo por não poder sair ao sol) e comprava para ele. Era um amor lindo de ver, confesso. Um cuidado, um carinho. Sybylla era uma bruxa. Isso, eu sou humana com amigos bruxos e vampiros. Não gosto muito da minha própria espécie. Assim como alguns de nós humanos preferimos animais a nossos iguais. Eu também prefiro animais. Se eu não fosse humana, odiaria humanos. Eles matam, destroem, roubam... Mas não vim te falar isso, portanto, voltando aqui ao que estou te contando, você ainda lembra? Demian era um vampiro que namorava com minha amiga Sybylla, uma bruxa, que céus, comprava uns 10 potes de margarina por dia para sustentar o vício do namorado. Não tinha nem citado antes que eles eram namorados, não é? Pois é, eles eram. Nós não sabíamos o que poderia acontecer a Demi por causa da margarina... e eu tremo só de pensar que nunca...

Bem, o caso é que em certo momento, um caçador de vampiros apareceu por essas redondezas. E descobriu, logo de cara, por ver um homem de seus 22 anos vomitando margarina pura na rua, que ele era um vampiro. Sim, poderia ser um humano. Mas ele nos chamou para ir beber umas num bar (santa ironia, logo beber álcool, algo viciante também) e pôde perceber que Demian recusava qualquer quitute, qualquer bebida e de vez em quando ia ao banheiro com a bolsa de Sybylla. Até que minha amiga, já bêbada, entregou: “DEMIAN”, gritou, “você sujou toda a minha bolsa com margarina!”. Logo depois disso, ele foi vomitar com a ajuda de Austin, o caçador de vampiros.

Austin nos acompanhou a partir desse dia para todos os cantos. Cinema? Austin estava conosco. Restaurantes para tomar café da manhã? Check. Segredos compartilhados? Com certeza! Sim, nosso Demi contou tudo para ele, esse lance de ser um vampiro. Mas Austin nada contou para nós. Só descobrimos no...

Não sei como continuar contando daqui. Sinceramente, não sei. No início, Demian, Sybylla e eu achávamos que eu poderia virar a namorada de Austin. Ele era um cara legal na nossa frente. Ele era interessante e bonito. Ele era incrível para mim. Mas um dia, ele atravessou com uma estaca o coração do meu pobre Demi. Sybylla e eu só descobrimos sobre sua crueldade quando Austin fugiu, pois seria perseguido pelo Tribunal dos Vampiros. Foi aí que a Sybie, destruída por dentro, teve a ideia de usar uma poção da época de sua avó, que viveu por mais que três mil anos, e ressuscitar Demian. Os ingredientes eram complexos e juntas fomos procurar por eles. Umas três semanas depois, conseguimos todos. Sybylla tinha uma única chance, pois possuía em seu acervo um ingrediente único, da época de sua avó, impossível de se encontrar outro. Eu não me lembro o nome, mas se assemelhava a uma joia, só que molenga. Enfim, Sybylla conseguiu a proeza de criar a poção.

Naquela noite, invadimos o cemitério e tiramos do caixão o corpo rígido e gelado de meu amigo, já em alta decomposição, apesar de que humanos e vampiros se decompõem em tempos diferentes. Sua boca encontrava-se aberta, como no grito que ele deve ter dado quando Austin o atingiu. Isso me fez chorar novamente. Sybylla introduziu o líquido na boca do namorado e a poção arroxeada tornou-se uma fumaça verde, depois preta e por fim... ela não funcionou. Demian não voltou à vida de vampiro, nem a nenhuma vida. Até hoje eu não sei dizer o que houve de errado. Sybie me disse que, em caso de erro, a pessoa não teria uma segunda chance, pois morreria de vez com o conteúdo da poção. Não tive como saber mais porque Sybylla na hora o beijou. Sim, de língua mesmo, um morto. Seria necrofilia na área dos humanos, eu sei. O que aconteceu em seguida foi o que mais me doeu. Sybylla colocou a mão direita no peito, ainda encurvada sobre o amado, respirou fundo e se foi. A morte dela arrancou o resto que restara do meu coração. De dia e de noite, só penso nisso. A partir desse momento comecei a me planejar. Me uni com outros vampiros, tipo uma ONG, que possuem uma lista de caçadores já reconhecidos por outros assassinatos e os perseguem de volta. Foi lá que eu descobri que fora Austin que tinha matado meu querido amigo. Tinha uma foto dele lá, que fiz questão de colocar no meio do mapa de procurados. Ele é meu alvo, mas todos os outros também são. Ele é a cabeça do corpo todo que quero destruir. Minha fome por vingança é imensa e meus dias são extremamente tristes, movidos apenas pela vontade de ver sangue.

E se você, seja da raça que for, estiver do lado de Austin, sinto em lhe dizer, mas sua hora chegou. Se você estiver do meu lado, apenas procure por Austin comigo. Se não, feche seus olhos e prometo, você não sentirá tanta dor quanto Demian sentiu... 

 

 
Esta postagem foi inspirada pelo tema do mês de Outubro de 2020 do Together: Should've seen it coming baby . O Together é um projeto lindo para unir a blogosfera, saiba mais clicando aqui