terça-feira, 18 de abril de 2017

Volume e assimetria nas roupas de Rei Kawakubo

 roupas de Rei Kawakubo
Criações de Rei Kawakubo

“Hiroshima Chic” foi o nome cunhado pela mídia para designar as coleções de moda criadas por estilistas japoneses que migraram para Paris nos anos 80. O termo se refere diretamente à bomba atômica lançada na cidade de Hiroshima em 1945. O slogan surgiu por causa das peças minimalistas e o uso constante da cor preta (além de outros tons escuros) presentes nas coleções japonesas, fazendo referência ao luto e ao fim do mundo. Esses designers de moda também carregaram na mala a filosofia zen e a limpeza de extravagância nas roupas, fazendo o andrógino e o sóbrio passar a reinar. O “menos é mais” surgiu com força na moda a partir daí. Kenzo foi o primeiro a ir do Japão para a França, seguido por Issey Miyake, Yohji Yamamoto e por uma única mulher: Rei Kawakubo.

Como as cores ficaram mais comportadas, a solução da Kawakubo para expressar suas ideias para as roupas foi desconstruir aquilo que consideramos como cortes normais. Ela trouxe volume e assimetria para suas criações e essa é sua identidade até hoje, praticada na marca fundada por ela em 1973, ainda quando morava em Tóquio: Comme Des Garçons.

 roupas de Rei Kawakubo

Do Japão, ela levou como influência não só seu design, mas também o uso de tecidos naturais e o tingimento a partir de ervas. As peças de Kawakubo se assemelham a grandes trabalhos de arquitetura e demonstram que podemos olhar mais a fundo para as roupas, muito além de sua superfície. O que complementa seus looks é salto baixo e pouca maquiagem. Falando assim, até podemos imaginar composições sem graça. Mas a complexidade de cada conjunto nos mostra que a grandiosidade não está presente apenas em peças multicoloridas, maquiagens super elaboradas ou em cima de um salto 15. Os cortes diferenciados e os volumes (que quebram com o tradicional de marcar as curvas do corpo) nos provam que há muito mais no campo da moda para ser explorado. 

 roupas de Rei Kawakubo

domingo, 16 de abril de 2017

Conheça o "Letters of Note"

O incrível projeto “Letters of Note” reúne e classifica transcrições e imagens de cartas, postais, telegramas e memorandos famosos e históricos. São materiais enviados por qualquer pessoa que possa contribuir e selecionados e postados por Shaun Usher, que também é responsável pelos blogs “List of Note” e “Letterheady”. Cada post do Letters of Note tem uma introdução sobre o contexto da carta em questão. Separei alguns, com um pequeno resumo, para vocês verem:

Manuscrito de David Bowie
Essa carta foi uma resposta à primeira carta de fãs norte-americanos recebida por David Bowie, em 1967. O jovem camaleão, então com 20 anos, deixou seus afazeres de lado e correu responder a fã Sandra Dodd. Na carta-resposta, Bowie diz que tem “uma cópia do álbum americano e eles imprimiram a foto um pouco amarelada. Eu realmente não sou tão loiro”. Ele finaliza o escrito pedindo para a fã lhe escrever de novo e contar mais sobre si mesma. 

Manuscrito de David Bowie
Outra carta, também do Bowie, dessa vez de 1974, mostra uma resposta padronizada, enviada para vários fãs, onde o cantor se desculpava pela demora em responder e justificava com toda a correria do novo álbum. 
Manuscrito sobre Laranja Mecânica
Uma carta datada de 1968 do produtor de Hollywood Si Litvinoff falava sobre o filme ainda não feito de Laranja Mecânica, onde Mick Jagger era cogitado para o papel de Alex e a trilha sonora seria feita pelos Beatles. Quando a preferência para o papel de Alex foi primeiramente dada a David Hemmings e não ao vocalista dos Rolling Stones, houve uma petição (imagem acima), assinado inclusive por Marianne Faithfull e pelos quatro integrantes dos Beatles. 
Manuscrito de Andy Warhol
Essa carta é uma resposta sobre informações biográficas de Andy Warhol para o editor Russell Lynes, da revista Harper’s Bazaar. Andy tinha acabado de se formar e disse que sua “Vida não poderia encher um cartão de moeda de um centavo”. Acrescentou que nasceu em Pittsburgh em 1928 “como todos os outros - em uma usina de aço”, que havia se formado em Tecnologia na Universidade Carnegie Mellon e que morava no momento em Nova York em um apartamento infestado de baratas.

Veja no Blog: http://www.lettersofnote.com/2010/01/my-life-couldnt-fill-penny-postcard.html

Recado de Frida Kahlo para Diego Riviera
Esse recado de Frida Kahlo para seu marido, Diego Riviera (que estava em São Francisco pintando um mural), foi escrito em um envelope. Ele começa com um simples “Diego, mi amor” e já é o suficiente para arrepiar! 
Manuscrito de Edgar Allan PoeHoje em dia é quase impossível imaginarmos um mundo onde Edgar Allan Poe passava por dificuldades financeiras. Na carta acima, que ele enviou junto com um manuscrito, podemos vê-lo pedindo por publicação, já considerando uma possível rejeição ao acrescentar que “caso o M.S. não for aceito, favor devolver o mais rápido possível, por correio”. Ele ainda se desculpa por ter bebido demais em Nova Iorque, num dia em que encontrou os editores, e joga a culpa em seu amigo William Ross Wallace.
Manuscrito de Agatha Christie
E essa carta de Agatha Christie se recusando a dar publicidade para o Departamento de Marketing do Reino Unido? 
Ao todo, são cerca de 900 manuscritos registrados pelo Letters of Note. Eu tenho certeza que vou passar muito tempo ainda vasculhando os arquivos. Espero que tenham gostado da dica! ;)

sábado, 15 de abril de 2017

Man Ray e a fotografia de moda

Peggy Guggenheim fotografada por Man Ray, vestindo Poiret
Man Ray é um dos mais conhecidos artistas surrealistas. Ele é um dos idealizadores do movimento dadaísta de Nova Iorque, em conjunto com o pintor Marcel Duchamp. Produzia pinturas como hobby e para bancar-se trabalhava como fotógrafo. Entre 1920 e 1940, época em que viveu em Paris, ele fez muitas fotografias de moda. Seus serviços foram prestados para importantes revistas, como Harper’s Bazaar, Vanity Fair e Vogue Paris. Man Ray se recusava a fazer fotos apenas comerciais, ele insistia para que seus ideais surrealistas estivessem presentes nos catálogos de moda, levando em conta todo o cenário e situação e não só as roupas.

O primeiro designer de moda com quem trabalhou foi Paul Poiret, que queria ter retratos de suas criações. A fotografia eleita pelo próprio Man Ray como preferida, entre tantas que fez para Paul, foi essa, da esposa do costureiro: 
Denise Poiret posando ao lado de uma escultura do romeno Brancusi, fotografada por Man Ray
Ray também trabalhou com outros grandes costureiros da época como Coco Chanel e sua rival, Elsa Schiaparelli. A própria Gabrielle Chanel posou para suas lentes em 1937 – uma fotografia bastante conhecida da estilista, que nem todos sabem que foi da autoria de Man Ray:
Coco Chanel fotografada por Man Ray em 1937
Mais algumas fotografias de moda feitas por Man Ray: 
Vestido de Elsa Schiaparelli para o Outono de 1931. Fotografia de Man Ray
A fotografia feita em 1929 dos lábios da fotógrafa Lee Miller serviu de pano de fundo para um editorial da Harper's Bazaar, criado por Man Ray
Elizabeth Arden “Electrotherapy Facial Mask", por Man Ray
Foto feita por Man Ray e publicada na Harper’s Bazaar, de 1936

Com o estouro da Segunda Guerra Mundial nos anos 40, Man Ray abandonou a fotografia de Moda. Porém, seu legado nessa área influenciou outros fotógrafos importantes como Sarah Moon, Paolo Roversi e Guy Bourdin. Até hoje os editoriais de moda se distanciam de meras fotos publicitárias, nos inserindo em mundos diferentes e mais próximos da arte do que do marketing, por causa do trabalho de Ray. 




sexta-feira, 14 de abril de 2017

Apanhado de Links - Especial Moda



O post de hoje tem menos links (cinco), mas em compensação, são todos envolvendo reflexão de moda, ou novas formas de enxergá-la. Eu, pouco apaixonada que sou, amei todos e por isso reuni num único post para indicar:

1 - Você conhece o projeto "Descaracterizar-se", onde Beatriz Cruz veste roupas e acessórios de outras pessoas? Se ainda não, leia o post “Desvestir”, do Moda Para Ler. 

2 - Eu amo pessoas que refletem sobre moda. Por isso adorei a reflexão “Investir em Estilo” da Mariana Santarem, que fala sobre usar peças que representem sua personalidade. 

3 - E nisso de refletir moda, encontrei o post da Carol Burgo, sobre dar outros sentidos às peças que temos. Por exemplo, usar uma camisa no lugar de saia. É sobre explorar todas as possibilidades de uma roupa! Leia mais em “Moda também é ponto de vista”.

4 - Eu amo Ronaldo Fraga e suas ideias mirabolantes, seus desenhos incríveis, suas inspirações regionais. Sou mesmo muito encantada com tudo que o estilista produz. Gostei muito de ler “O desfile trans de Ronaldo Fraga e a crítica de moda”, escrito por Eduardo Motta. 

5 - “O feminismo que estampa novas coleções” fala sobre as frases feministas estampadas principalmente em t-shirts. Paula Maria, autora desse texto na Valkirias, faz uma análise sobre essas peças e suas vendas em redes de fast fashion. Qual o impacto disso para a consciência do feminismo? Lê aí que esse texto dá uma discussão dessas boas.

quinta-feira, 13 de abril de 2017

O que NÃO ler: Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band


Eu sei que muitas pessoas amaram esse livro, então quero lembrar que o texto abaixo reflete minhas impressões pessoais sobre ele e apenas isso.


Quando encontrei o livro Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band – Um Ano na Vida dos Beatles e Amigos, de Clinton Heylin, por uma pechincha de R$ 10 numa livraria da minha cidade, achei que tinha feito um achado e tanto! Eu, que amo biografias. Eu, que amo os Beatles. Eu, que tenho como um dos álbuns preferidos da vida Sgt Pepper’s Lonely Hearts Club Band.

Primeiro ponto negativo: O título remete ao álbum, o subtítulo já sugere outra coisa. Confesso que levei mais fé no título e achei que a promessa do livro era mostrar as inspirações para as músicas, como cada uma foi escrita e por quem, dissecar as gravações do disco e talvez nos dar os parâmetros do lançamento. Mas não. Isso até acontece de forma rápida lá da metade para o final do livro. O começo, embora interessante, mostra mais sobre outros artistas da época (Beach Boys, Pink Floyd, Cream, Bob Dylan, etc) do que os próprios Beatles. Eu aprendi na faculdade de Jornalismo que quando o título fala algo ele vende uma promessa, que PRECISA ser cumprida no texto. Esse livro não cumpriu exatamente o que prometeu, pelo menos para mim.

Segundo ponto negativo: Descobri que, segundo Heylin, grande parte dos problemas do John com drogas vieram do fato dele ser pai muito cedo. Que dó do Lennon, não? Como era difícil ser pai nos anos 60! Uma bela desculpa para se jogar nas drogas. Aliás, o livro todo enfatiza muito o uso de drogas pelos integrantes das bandas daquela década.

Terceiro ponto negativo: Comentários de gosto duvidoso como Clinton faz sobre o Grateful Dead: “Sua única esperança era levar consigo os mortos de fome que frequentavam seus shows no Filmore (...)”, referindo-se aos fãs da banda. Me pergunto se Heylin estava lá para saber que eles eram “mortos de fome”. Outra opinião do autor: “(...) no caso do Channel 4, o fato de os `espectadores’ não se lembrarem de um único álbum de Dylan entre os cinquenta melhores de todos os tempos sugere que estamos lidando com o mesmo bando de retardados que considera Guerra nas Estrelas um filme melhor que Cidadão Kane”. Eu amo Cidadão Kane, mas também amo Guerra nas Estrelas. Acredito gosto é algo muito pessoal e ambos os filmes possuem suas peculiaridades e genialidades. Também acho bem injusto compararmos uma saga com um único filme. São histórias diferentes, gente!

Clinton é fã assumido de Dylan e aproveitou para puxar o saco do cantor durante todo o livro. Tudo bem que Dylan é realmente incrível, mas achei que faltou separar mais as coisas, afinal, era um livro sobre os Beatles e não para elogiar desenfreadamente a carreira de outro cantor. Não li nenhum material escrito por ele sobre Dylan, mas sei que existe. Será que Clinton elogia a todo momento a Fab Four por lá?

Quarto ponto negativo
: O livro não tem um final bem estruturado. Ele simplesmente acaba, sem uma conclusão do autor. Aliás, acaba em uma citação (dessas no estilo ABNT, com amplo espaçamento à esquerda) de Paul McCartney. 
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É raro eu não gostar de um livro, mas esse eu me pergunto como consegui chegar até o final. Não quero desmerecer o grande trabalho de pesquisa bibliográfica que o autor fez. Ele inclusive trouxe pontos interessantes que eu não conhecia, como o mercado de bootlegs internacional, que encontrou uma brecha nos termos da gravadora dos Beatles para lançar por fora takes e músicas da banda. Mas nem sempre muita pesquisa resulta em um livro bom, bem escrito e com opiniões respeitosas. Fica aí como dica do que não ler.

terça-feira, 4 de abril de 2017

Campos de morangos pra sempre

Compacto Strawberry Fields Forever e Penny Lane dos Beatles
Compacto lançado em fevereiro de 1967 com Strawberry Fields Forever e Penny Lane
Strawberry Fields Forever é uma música escrita por John Lennon (creditada à Lennon-McCartney) que era pra ter entrado no álbum Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band dos Beatles, de junho 1967, porém, foi lançada meses antes em um compacto, junto com Penny Lane. A canção foi inspirada num orfanato, chamado Strawberry Field (mantido pelo Exército da Salvação), que ficava próximo ao local onde Lennon morava na infância. Quando criança, John frequentava festas que aconteciam no quintal do orfanato.

Versão remasterizada do videoclipe:

Abaixo você pode conferir o take 26 da música, lançado no Ultra Rare Trax nos anos 80 (que continham gravações originais dos Beatles dos anos 60), na velocidade em que a canção foi gravada originalmente:


Uma das gravações feitas por Lennon antes do estúdio: