sexta-feira, 15 de julho de 2016

Alternativas para o uso do couro animal

Essas amostras são de Arktex Fluffy, compostos de casca de árvore, lã e algodão. Foi premiado por excelência de material em Nova Iorque.

A cada dia surgem novas alternativas para tentar reduzir o impacto da produção de tecidos. As pesquisas nessa área avançam e as descobertas nos dão a esperança de uma moda mais ética e amiga do planeta. O couro de animais, por exemplo, ainda é um tecido que muitas marcas hesitam em substituir por causa de seus aspectos únicos, como a suavidade do toque e a proteção térmica. “Supostamente” não há nenhum substituto à altura do couro animal. Para quebrar esse “supostamente”, pessoas envolvidas com a área têxtil contestam essa afirmação, dizendo que existem sintéticos tão luxuosos e confortáveis quanto o couro. A estilista Stella McCartney é uma dessas pessoas e defendeu em uma entrevista para a Folha de S. Paulo que há sintéticos tão bons que chegam a ser confundidos com a pele de um animal. 

Na esperança de encontrar um substituto para o couro, a designer e pesquisadora (pioneira no assunto) Suzanne Lee decidiu colocar micro-organismos para trabalhar ao invés de humanos. Ela contou que, como designer de moda, sempre pensou em materiais para confecção de roupas sendo resultados de um processo que envolve várias etapas até a parte final. Por exemplo, a plantação de algodão, sua colheita, seu transporte, sua produção industrial e sua costura para produzir apenas uma camiseta. Ou a criação de animais, seu abatimento, a curtição e tingimento do couro para resultar em uma bolsa. Mas um dia, um biólogo a ensinou a pensar diferente: chá verde, açúcar, micro-organismos e uma parcela de seu tempo também poderiam resultar em peças de vestuário. Muito mais sustentáveis, sem prejudicar o meio ambiente e sem animais mortos. 

Essas peças foram feitas de chá de kombucha fermentado por micro-organismos. A peça do lado esquerdo foi tingida com pigmentos naturais e a da direita com índigo (em quantidade muito inferior que o utilizado em roupas de outros tecidos).

Suzanne criou uma fibra sustentável feita com chá de kombucha e açúcar, fermentada com bactérias e fungos e tingida com pigmentos de frutas e vegetais. Mas, com tanta perfeição e facilidade, porque não estamos por aí desfilando nossos tecidos de chás? A resposta vem da própria Suzanne: ela ainda não conseguiu tornar o material resistente à água. Mas sua pesquisa já é um avanço e tanto! 

Seguindo essa linha de tecidos feitos por bactérias, temos a designer Amy Congdon, que pesquisa materiais biodegradáveis que não produzem poluição e utilizem menos água e energia que os habituais. Ela sempre se interessou em misturar design e ciência e trabalha constantemente para desenvolver tecidos mais ecológicos, além de tentar descobrir como essas novas alternativas podem ser aplicadas nas confecções em larga escala.

Outro exemplo de tecido ecológico é o “couro” feito de frutas (Fruitleather Rotterdam), criado pelos alunos Hugo de Boon, Aron Hotting, Koen Meerkerk, Maaike Schoonen, Bart Schram e Miloy Snoeijers, da Willem de Kooning Academie, na Holanda. Eles utilizaram inicialmente 3.000 kgs de frutas que são jogadas fora depois de um dia de feira, descascaram e retiraram o caroço de cada uma e depois cozinharam e deixaram secar o que sobrou. O resultado foi um material semelhante ao couro animal. E ainda há sempre uma surpresa, pois a textura do tecido muda de acordo com a fruta usada. Com o “couro” de frutas pronto, eles já produziram uma mala (usando 14 mangas) e uma sacola de compras (feita de nectarinas); ambas apresentaram boa resistência. 

"Couro" feito com frutas descascadas e sem caroço, que iriam para o lixo caso não fossem reaproveitadas.

Ainda na onda das frutas, existe também um “couro” feito com fibras de abacaxi (extraídas do caule e das folhas). Desenvolvido pela empresa Ananas Anam, o tecido recebeu o nome de Piñatex e teve apoio dos designers Carmen Hijosa e Ally Capellino, e das empresas Camper e Puma. O trabalho começa com o processo de descasque, feito por uma comunidade agrícola, e pode ser tingido ou impresso para ganhar cores. As fibras de abacaxi são geralmente desperdiçadas na agricultura, portanto, seria uma maneira de reaproveitá-las sem precisar usar terra, água, fertilizantes ou pesticidas extras. 

Bolsas, tênis e carteiras produzidas com o tecido Piñatex, feito a partir da fibra e da folha do abacaxi

Mas nem só de frutas e de chás se faz “couro” ecológico. Existe uma versão feita da casca exterior da árvore, extraída e colocada em água que, misturada a outros elementos, forma o tecido conhecido como Barktex. Esse é outro projeto que necessita do uso de pouca energia, é ecologicamente seguro e ainda cria emprego para agricultores da Uganda, na África.

Esse Barktex faz parte da coleção “Exotics” da BarkClothes. São tecidos com pigmentos luminescentes ou iridescentes, que podem ser bordados com cristais Swarovski.

E para finalizar esse post, deixo para reflexão uma frase que foi impressa em uma das sacolas do Movimento Cuide (2004) que eu acredito que cabe bem aqui: “consuma sem consumir o mundo em que você vive”. Buscar alternativas aos tecidos que agridem os animais e o meio ambiente em que vivemos e apoiar essas iniciativas de pesquisas são bons começos para nos tornarmos mais sustentáveis.

segunda-feira, 4 de julho de 2016

História da Moda: Idade Contemporânea

IMPÉRIO
O excesso de privilégios do clero e da nobreza francesas deu origem a Revolução Francesa, que gerou a Idade Contemporânea. Em 1790, o que valia era vestir-se com conforto, contrariando os excessos vindos do Rococó. As roupas sofreram influências da vida no campo. 

Os homens vestiam casacos de caça ingleses, botas, calças, golas altas e lenços no pescoço.

As mulheres usavam vestidos que lembravam camisolas, com grandes decotes e recortes de cintura alta logo abaixo dos seios, geralmente de cor clara e de tecidos como musseline. Quando o vestido era de manga curta, costumavam usar luvas. 

O xale foi uma peça muito importante, que vinham da índia, com estampas de caxemira. Logo os franceses passaram a fabricar seus próprios xales.  

Napoleão, que governava a França, tomou decisões que atingiam diretamente a moda da época. Ele tinha intenção de desenvolver a indústria têxtil em seu país, portanto, proibiu a importação de musseline. Ele queria incentivar a produção de seda. Nessa época, as damas da corte não podiam repetir o uso de suas vestimentas em público.

Os xales foram usados durante todo o período
Os vestidos dessa época lembravam camisolas


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ROMANTISMO

Nesse período, que durou de 1820 a 1840, os vestidos ganharam ornamentos e saias cônicas, com decotes menores, mangas bufantes compridas e justas nos punhos. A partir de 1930, as mulheres eram responsáveis por demonstrar a riqueza da família. Estampas listradas e florais faziam sucesso. A cintura volta para seu lugar, marcada pelo corpete. As saias com anáguas voltam a moda. 

As mangas passaram a ser extremamente bufantes (chamadas de Mangas Presunto) e eram preenchidas com plumas e fios metálicos. Para a noite os decotes em forma de canoa e bem acentuados eram permitidos e o xale podia ser rendado. As joias da época foram os relicários, as pulseiras, os broches e os adornos ficaram por conta de laços, fitas e flores. Os cabelos formavam cachos que caiam no rosto, com chapéus de palha ou cetim do tipo boneca amarrados no queixo. Sapatos de salto baixo e leque completavam o visual. 

A moda masculina teve maior transformação. Na Inglaterra o estilo Dândi apareceu. Os trajes deles eram sóbrios, com roupas justas, casaco, colete, cartola, calça comprida, camisas com altas golas e lenços no pescoço que deixavam a cabeça levemente erguida. Essa moda permaneceu sem muitas alterações até o fim do período romântico. A partir de 1830 o uso de barbas tornou-se comum.

chapéus tipo boneca

Os trajes dos dândis 
 


Decotes profundos e xales rendados eram usados para sair a noite


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ERA VITORIANA
Até 1890 a moda foi marcada pelo estilo de vida caro e festeiro do príncipe de Gales, Edward. Em 1861 ele morreu e a rainha Vitória (da Inglaterra) entrou em uma profunda tristeza, marcada pelo luto. Na moda os decotes sobem e as cores escurecem, vestindo assim britânicos e americanos. 

Crianças usavam preto por um ano após a morte de um parente e viúvas mantinham o luto por dois anos, podendo optar por usá-lo permanentemente. A crinolina (armação de aros de metal usada embaixo da saia para dar volume, parecida com uma gaiola) passou a ser usada. O ideal de beleza para as mulheres era de ser pequena com olhos grandes e escuros, boca minúscula, ombros caídos e cabelos cacheados. Era elegante ser pálida e desmaiar facilmente. Boa saúde era para as classes baixas. 

Com o tempo, os vestidos femininos passaram a ter profundos decotes, com o colo em evidência. Ombros e braços passaram a aparecer e os tecidos mais usados eram a seda, o tafetá, o brocado, o crepe e o musseline. Este período marca o surgimento da Alta Costura com o costureiro inglês Charles Frederick Worth,  que em 1850, passou a ditar moda em Paris fazendo as mulheres irem até ele para comprar. Esse foi o primeiro conceito de grife. A crinolina deixou de ser completamente circular e passou a ter volume maior na parte de trás e a ser mais reta na frente. Por volta de 1870, o volume da parte de trás diminuiu, se assemelhando a uma almofada e passou a ser chamada de anquinha - feitas de crina de cavalo no início e em seguida de arcos de metal unidos por uma dobradiça que permitia que ela se abrisse ou se fechasse quando a mulher sentava. Os tecidos dos vestidos mudaram para os que antes eram usados apenas em decoração de estofados e cortinas. Os espartilhos eram indispensáveis e os detalhes cresciam cada vez mais, com o uso das rendas, laços e babados. Os acessórios eram compostos de leques, sapatos de salto alto, sombrinhas, caudas nos vestidos e pequenos chapéus para o dia.

A moda escureceu no início da era vitoriana
A crinolina era usada por baixo de saias e mais parecia uma gaiola gigante
Devido ao luto da rainha Vitória por seu filho Edward, o povo passou a se vestir de preto
Essa foto mostra que nem tudo era tristeza na era vitoriana


Mais para o final do período vitoriano, o volume passou para a parte de trás das saias e os detalhes como babados e rendas aumentaram


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LA BELLE ÉPOQUE
A Bela Época representou o período de 1890 até 1914, chegando ao fim com a Primeira Guerra Mundial. Neste momento surge a Art Nouveau, onde a referência passou a ser a natureza e suas linhas curvas. As mulheres adotaram isso em suas vestimentas.

A cintura feminina se tornou mais fina e atingiu a menor circunferência já vista em toda a história: cerca de 40 cm. Mulheres removiam suas costelas flutuantes para conseguir esse resultado e abusavam do uso de espartilhos. O formato ampulheta, onde ombros tem volume, a cintura é muito fina e os quadris são grandes vira ideal de beleza. A cobertura corporal era quase completa: apenas o rosto e as mãos apareciam, isso quando a mulher não estivesse de luvas. As golas eram muito altas e cobriam o pescoço. Detalhes como laços, babados, fitas e rendas foram muito usados. 

Mais tarde, o hábito de praticar esportes trouxe para as mulheres a veste de duas peças, com ar masculino. O tailleur (casaco e saia do mesmo tecido) foi adotado para o dia-a-dia. O banho de mar era um hábito, com as roupas feitas de malha e fios de lã, cobrindo o tronco e chegando na altura dos joelhos. Eram completados com meias e sapatos e muitas vezes com uma capa cobrindo tudo. Por influência dos banhos de mar as anquinhas foram substituídas por uma saia em formato de sino, bastante apertada, que quase impedia o caminhar das mulheres. Nas cabeças, chapéus floridos cobriam coques. Surgia então, a moda marinheiro. Entram novos estilistas na Alta Costura, como Jacques Doucet e John Redfern. É nesse momento que a moda infantil, pela primeira vez na história, começa a deixar de ser cópia da roupa dos adultos.

O traje masculino era composto por sobrecasaca e cartola ou terno. As calças eram retas e com vinco na frente. Os cabelos curtos e o uso do bigode eram bastante populares. 

 As cinturas atingiram seu ápice e passaram a medir cerca de 40cm

A cobertura do corpo era quase completa, deixando apenas mãos e rosto a vista

Para os homens, calças retas com vinco na frente, bigodes e cartolas


Veja mais posts sobre a História da Moda:
  1. História da Moda: Pré História
  2. História da Moda - ANTIGUIDADE (egípcios, assírios, babilônios e persas)
  3. História da Moda - ANTIGUIDADE CLÁSSICA (Creta, Grécia e Roma)
  4. História da Moda - IDADE MÉDIA
  5. História da Moda: IDADE MODERNA
  6. História da Moda: SÉCULO XX – 1900 e anos 10
  7. História da Moda: Anos 20
  8. História da Moda: Anos 30
  9. História da Moda: Anos 40
  10. História da Moda: Anos 50
  11. História da Moda: Anos 60
  12. História da Moda: Théâtre de La Mode
  13. História da Moda: trajes gaúchos
historia da moda idade contemporanea

sexta-feira, 1 de julho de 2016

Das tendências que vejo por aí: veludo molhado

Há uns anos o veludo molhado já era tendência, usado principalmente em calças. Agora, em 2016, voltou a aparecer nos desfiles de Milão da Valentino e da Alberta Ferreti e promete ressurgir no nosso inverno em vestidos, casacos, blusas, calças, shorts, saias e muitas outras peças. E ele fica lindo tanto misturado com peças mais delicadas ou sociais (como camisas e roupas de tecidos mais finos) quanto com peças mais pesadas ou com uma pegada mais rocker (como camisetas de bandas e calça jeans). Vale o teste no mix de texturas e tecidos! ♥